sexta-feira, 26 de agosto de 2011

UM DIA DE HANK - PARTE 02




Senti os raios de sol passando pela janela tapada  pelos jornais mal pregados com fita adesiva. Eu estava com um gosto metálico na boca. Que porra de vinho era esse?!
Lembrei da entrevista.

- Caralho! Já deve ser umas.......FILHA DA PUTA!!! Aquela vadia levou meu relógio!

Bebi tanto que nem lembro se fodi a mulata. Olhei a carteira. Limpa. Vasculhei os bolsos da calça e achei uns trocados. Tenho que aprender a não trazer puta pra casa.
Levantei e quase fui ao chão de um escorregão. O chão estava uma poça de vomito só.
Sentei na cama e acendi um cigarro. Passei a mão pelo rosto e notei que teria que tirar a barba. E que horas seriam? A porra da entrevista estava marcada para as 8:30.
Levantei e desviei do vomito e de umas latas de cerveja vazias. O banheiro esta um lixo.
Mijei e tirei a barba. Deixei para cagar na volta, pelo movimento da rua eu não estava com tempo pra isso. Coloquei a mesma roupa da noite anterior e desci.

- Moça, que horas?

- 7:50.

- Agora fudeu tudo!

- Como senhor??

- Desculpe. Pensei alto. Obrigado.

Não tinha dinheiro para pegar um taxi. A puta tinha me fodido de jeito e eu nem ao menos fodi ela. Contei os trocados do bolso. Peguei um ônibus. O calor estava infernal. Ônibus lotado, um empurra empurra desgraçado. Todos dentro do ônibus estavam inquietos. Todos atrasados como eu. Olhei as horas no relógio do cara ao meu lado. 08:05. Talvez desse tempo, não era tão longe assim. O ônibus balançava a beça e meu estômago estava aos trapos. Reparei que um sujeito ao meu lado com cara de rato estava  se aproveitando do balançar do ônibus pra se esfregar numa garota a sua frente. A garota estava toda sem jeito e olhava angustiada para os lados. Na primeira curva que o motorista deu com mais velocidade, cravei meu cotovelo na ponta de suas costelas. O sujeito deu um pulo.

- Ops! Desculpa. Esses motoristas são uns fodidos. Pensam que estão transportando porcos. Fazem curvas a toda velocidade.

O sujeito so me olhou torto, passando a mão nas costelas. Queria ver se ainda tava com tesão pra se aproveitar da moça. Duvido muito, até meu cotovelo doeu. Passei pela moça e pisquei o olho pra ela. Ela me olhou com ar de agradecimento. A próxima parada era a minha. Desci e apressei o passo. Resolvi subir pelas escadas. Eram so três andares.

- Puta que o pariu! Que idéia de merda! - falei ofegante.

Demorei um século pra chegar ao terceiro andar. Minhas pernas tremiam. Vinho escroto!
Olhei o papel. Sala 308. De frente a porta me ajeitei, passei a mão no cabelo e Bati duas vezes. Uma velha com cara de bulldog abriu a porta e me encarou. Olhei rapidamente as horas no relógio pregado no fundo da sala. 08:40. Malditas escadas. Maldita puta. Maldito vinho. A velha continuou me encarando sem dar uma palavra.

- Bom dia. Vim para uma entrevista de emprego.

A velhota fez uma cara de azedo, olhou seu relógio de pulso e falou:

- Você é o candidato das 08:30?

Putz! Pensei. Me fudi.

- Sim senhora, é que...

- O senhor esta com sorte, o Doutor Madureira esta atrasado. Esta no meio de um engarrafamento por causa de uma greve dos bancários.

Viva os bancários. Pensei.

- O senhor vai ter que esperar um pouco.

- Sem problemas. Meu outro compromisso será so após o almoço.

Eu não tinha porra nenhuma pra fazer a semana toda. A velha me pôs numa cadeira na frente de sua mesa e continuou me encarando. Cheirava forte a lavanda barata. Meu estômago  deu umas voltas. O tempo passou se arrastando. O silêncio era aterrador. Olhei o relógio na parede. 10:25.

Malditos bancários! Pensei

A porta se abriu e um gordo com um paletó que parecia mais uma tenda de circo entrou enxugando o suor da testa com um lenço.

- Bom dia dona Vilma.

- bom dia seu...

O gordo suado passou direto e bateu a porta de sua sala sem dar chance da dona bulldog  
Perfumada a melar o bico. Uns vinte minutos depois o interfone toca e ela entra na sala. Mais uns trinta minutos se passam.

Será que o gordo ta enrabando a velhota? Pensei.

Olhei o relógio. 11:11. A porta de abriu e um cheiro forte de lavanda entrou direto no meu nariz. Meu estômago revirou. Maldita lavanda barata. Maldita velha. Maldito vinho barato.

- Senhor... Pode entrar.

A sala cheirava a uma mistura de lavanda e peido. O Gordo estava todo esparramado numa cadeira que parecia que ia desmontar em mil pedaços a qualquer movimento que ele fizesse.

- Sente por favor.

Sentei. Ele puxou um papel e começou:

- Quer dizer que o senhor tem larga experiência em injeção eletrônica?

- Sim senhor.

Não vejo nada de mais em acrescentar umas mentirinhas no currículo.

- E já foi supervisor técnico da Ford.

Putz! Essa acho que exagerei. Nem lembrava de ter escrito isso. Tenho que aprender a não fazer currículo mamado.

- Isso. - respondi

Ele sorriu e acendeu um charuto que parecia mais um cagalhão de tão escuro e fedorento. Meu estômago se contraiu ate ficar do tamanho de uma azeitona.

- Vejo que esta desempregado a um bocado de tempo para um currículo tão vasto.

Me olhou esperando minha reação e deu uma baforada de fumaça na minha cara. Foi o bastante. O jato de vomito foi direto na mesa de Formica cinza inundando tudo pela frente.

- PUTA QUE PARIU CARALHO! - Dona Vilma! Tira esse cuzão da minha sala agora!

Pensei se o que me restava do dinheiro daria para o ônibus e um jornal para ver as ofertas de emprego. Maldito Gordo! So me restava voltar pra casa e dar uma bela cagada.




Eduardo Ramos


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