quinta-feira, 29 de março de 2012

Millôr

"Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos."

quarta-feira, 28 de março de 2012

"Descobri que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente trepando no escuro, tem gente sentindo ausência!"

"Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar..."
"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"
"Teus lábios são labirintos
Que atraem os meus instintos mais sacanas
E o teu olhar sempre distante sempre me engana
Eu entro sempre na tua dança de cigana"

No Limite

"Cento e dez, cento e vinte
Cento e sessenta
Só prá ver até quando o motor agüenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra do sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway"

TOP TOP









ACALMANDO A ALMA

You stay to be alright

segunda-feira, 26 de março de 2012

CAIS




De onde eu vim
Não tem mar
Onde eu vim parar?

Atranquei
Nesse cais
Por amor demais

EMBARALHANDO CANÇÕES

Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Eu posso estar correndo pro lado errado
Mas "a dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar
Eu paro
E fico aqui parado
Olho-me para longe
A distância não separa
Tudo se divide, todos se separam
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E à noite eu acordava banhado em suor
Que a noite caia
De repente caia
Tão demente
Quanto um raio
Que a noite traga
Alívio imediato
O melhor esconderijo, a maior escuridão
Já não servem de abrigo, já não dão proteção
Alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer
É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada.
Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como viver
Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos pra estar?
Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos
Mas eu nunca sei pra onde vamos
Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo
Mas não há mais muito tempo pra sonhar
Somos um exército, o exército de um homem só
No difícil exercício de viver em paz
Por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente
Não consegue entender
Que a chuva caia
Como uma luva
Um dilúvio
Um delírio
Que a chuva traga
Alívio imediato
Eu já não esquento a cabeça
Durante muito tempo
Isso era só o que eu podia fazer
Mas eu falei nem pensar
Agora me arrependo
Eu fui sincero como não se pode ser
E um erro assim, tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira
Ele consegue nos achar num bar
Com um vinho barato
Um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada
No espelho do banheiro
Entre um copo e outro da mesma bebida
Entre tantos corpos com a mesma ferida
O mundo todo é uma ilha
Há milhas, e milhas, e milhas...
Entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato
Entre a loucura e a lucidez,
Entre o uniforme e a nudez
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Nós estamos vivos e é tudo
E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum
Pra ser sincero
Não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto antes de anoitecer
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclete menta
E a sombra do sorriso que eu deixei...

sexta-feira, 23 de março de 2012

CHICO

TATUAGEM




"Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva..."

Canção pra não voltar




Não volte pra casa meu amor que aqui é triste
Não volte pro mundo onde você não existe
Não volte mais
Não olhe pra trás
Mas não se esqueça de mim não
Não me lembre que o sol nasce no leste e no oeste morre depois
O que acontece é triste demais
Pra quem não sabe viver pra quem não sabe amar

Não volte pra casa meu amor que a casa é triste
Desde que você partiu aqui nada existe
Então não adianta voltar
Acabou o seu tempo acabou o seu mar acabou seu dia
Acabou, acabou

Não volte pra casa meu amor que aqui é triste
Vá voar com o vento que só lá você existe
Não esqueça que não sei mais nada
Nada de você
Não me espere porque eu não volto logo
Não nade porque eu me afogo
Não voe porque eu caio do ar
Não sei flutuar nas nuvens como você
Você não vai entender
Que eu não sei voar
Eu não sei mais nada

terça-feira, 13 de março de 2012

Então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada?



Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.

Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Nosso Estranho Amor





Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor

segunda-feira, 12 de março de 2012

You Are So Beautiful

DÚVIDA

"É menos mau inquietar-se na dúvida do que descansar no erro."
(Alessandro Manzoni)

"Não há nada de mais ilusório e contingente do que a verdade, e coisa alguma mais ajuizada do que a dúvida." (Carlos Malheiro Dias)

"O mal dos tempos de hoje é que os estúpidos vivem cheios de si e os inteligentes cheios de dúvidas." (Bertrand Russell)

A Whiter Shade Of Pale

Satisfaction!

SOLIDÃO



Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo......Isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. .. Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma....

quarta-feira, 7 de março de 2012

EPIFANIA

- Porque te prendes a estas amarras?

Baixei a cabeça e olhei os punhos cerrados.

- A amarras não estão em tuas mãos e sim na tua cabeça.

Levantei, dei a última tragada, joguei o cigarro e sai andando.

- Não se liberta fugindo e sim lutando. Mesmo que contra seu maior inimigo, suas convicções.

Parei sem me virar e respirei fundo. Estava me sentindo sufocado.

- Tudo que você acredita foi lhe passado para lhe fazer acreditar no melhor para "o todo". Suas certezas são certezas de outros, compilações de um manual de “boas maneiras”. O rebanho tem que seguir em frente. Há anos é assim e vai continuar sendo. São poucos que enxergam além do imposto. Mas depois é tão óbvio que nos sentimos idiotas por passar tanto tempo para perceber. Seus conceitos são dilacerados. Tudo muda. O medo acaba. Acredite.

Virei e o encarei. Encontrei olhos focados, olhar intenso e determinado.

- Sei que é difícil. Sua vida toda foi condicionada para acreditar e seguir o que lhe foi colocado. Eles fazem isso com excelência. Você nasce e já lhe apresentam mesmo sem você saber andar, falar e raciocinar. Você cresce e aquilo cresce junto com você. Lhe rodeia, lhe enlaça, lhe inunda. Há poucas brechas, mas quem as procura? So se procura o que se tem conhecimento.

Minha cabeça começou a rodar. Voltei e sentei. Acendi outro cigarro.

- O quadro desaba diante dos seus olhos. Era tudo camuflado, pintado com as cores imagináveis de sua mente. Ela não tem culpa, foi entupida de informações manipuladas aos interesses alheios de maneira que a pintura só fosse vista de uma única perspectiva.
Você precisa ver o quadro como foi proposto por Picasso em sua fase Cubismo.
Os objetos foram pintados de maneira que todas as suas partes fossem percebidas num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e mostrassem todos os seus lados no plano frontal em relação a quem o aprecia. Lhe proponho sair desta visão unilateral. Aceite o amargo da dissimulação coletiva. Amplie o espectro. Solte as amarras. A ordem é desconstrução.

Fechei os olhos. Uma mistura de inquietude, revolta e excitação me tomou por completo. Pequenos espasmos partindo das pernas. Depois torpor. Alívio. Senti as amarras afrouxando. Um peso desprendendo. O início de um recomeço.

- Bem vindo a vida.


EDUARDO RAMOS

terça-feira, 6 de março de 2012

COMO ÁGUA

“Esvazie sua mente de modelos formas, seja amorfo como a água, você coloca a água em um copo, ela se torna o copo, você coloca a água em uma garrafa, ela se torna a garrafa, você a coloca em uma xícara de chá, ela se torna a xícara de chá, a água pode fluir, a água pode destruir, seja água meu amigo.”

RELIGIÃO

“... [a religião é] um sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável e que, por outro lado, lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui. O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão patentemente infantil tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de lamentáveis atos retrógrados.”

Freud, "O mal-estar na civilização".

Certo, você pode agora ignorar e fingir que nada disso é verdade e o texto acima não tem o menor sentido. E não, não é um afronto direto para quem está satisfeito com sua religião. É somente algo para refletir.

segunda-feira, 5 de março de 2012

UM DIA DE HANK PARTE 03

Virei o resto de vinho que sobrava na garrafa. Olhei ao redor do quarto e só garrafas vazias espalhadas pelo chão. Abri a geladeira e nada além de umas coxas de frango azedas. Abri a carteira e encontrei uns trocados. Vasculhei os bolsos e encontrei mais um pouco. Garantiria mais uma garrafa. Desci as escadas e peguei a avenida principal. Da esquina avistei o mercado. Era por volta de meio dia de sábado e a rua estava movimentada. Dei alguns esbarrões mais nada que me incomodasse tanto quanto o calor. Meu pescoço fritava e eu procurava qualquer sombra pra aliviar daquele sol.
Tentei andar de maneira que não parecesse tão bêbado. Faltavam apenas uns 30 metros.
Na porta do mercado o balconista já avisava: “Nada de fiado companheiro!”
Puxei do bolso os trocados e mostrei a ele. Peguei o vinho mais barato e uns amendoins e voltei para o quarto. Na entrada dei de cara com o vizinho da esquerda. Um sujeito metido a certinho que no fundo eu sabia que não passava de um filho da puta tarado em crianças. Fiz de conta que não vi ele falando comigo e entrei. Abri a garrafa e tomei no gargalo. Já não sentia o sabor do vinho  e sim um amargo na língua. Liguei a TV e só passava merda. Não adiantava mudar de canal. Eram tantos e a metade eram religiosos tentando abocanhar o pouco do dinheiro dos desesperados. Desliguei. Tomei mais um trago. Deitei na cama e tudo rodou. Levantei. Resolvi dar uma volta. O quarto estava abafado e úmido. Na saída derrubei o vinho e perdi a metade da garrafa. Uma moradora ficou me olhando com ar de reprovação. Fodasse ela e sua vidinha de merda! Desci as escadas, que ficará mais difícil de descer que da primeira vez. O corrimão me poupou de alguns tombos. Dei de encontro com o sol que não me deu trégua. Virei o resto do vinho. Procurei o bar mais próximo. Fechado. Cruzei a principal e virei a esquerda. Enfim um bar se assim o puder chamar. Não me lembro de ver tantos olhos olhando o vazio como naquela espelunca. No balcão um sujeito me atendeu com uma cara de pouca conversa. Pedi um duplo com aguá. Ninguém se falava. Todos quase que estáticos a não ser pelo movimento de levar o copo a boca. Aumentei a estatística. Pedi outra dose. O ambiente era deprimente. Pouca luz, espelhos já esverdeados nas paredes não refletiam mais nossos rostos, e sim umas imagens disformes e bizarras. A música era indecifrável pois as caixas emitiam mais ruídos que acordes. No canto esquerdo do balcão um cara bateu o copo na mesa e olhou para o teto. Seu rosto era uma mistura de Bogart e Dafoe. Expressão cansada e rugas que lhe tomavam quase que todo o rosto. Pobre sujeito. Na certa perdeu a esposa ou emprego, coisa que comigo não seria motivo de bebedeira. Há tempos só me envolvia com vagabundas e vivia de bicos. Já estava na minha quarta dose quando um sujeito por volta de seus 50 anos entrou e sentou ao meu lado.
- Que dia quente eim.
- Moço, uma cerveja bem gelada!
Olhei e balancei a cabeça.
- Esta no escocês? Putz!
Dei um sorriso amarelo.
Este é meu defeito. Não sei ser simpático nem falso. 
- Esta aquecendo para o jogo?
- Escuta cara, o único jogo que gosto é corrida de cavalos. Não sou de muita conversa e so vim aqui pra virar uns tragos ok!
O cara me olhou torto e mudou de lugar.
Se quisesse conversar iria para o bingo fofocar com um monte de velhotas.
Pedi mais um whisky, virei e sai daquela espelunca. O sol tinha maneirado. Olhei o relógio. Aquela merda estava parada a uma semana e eu não tinha tirado. De que me importava a hora, não tinha nada marcado para as próximas 144 horas. Havia conseguido uma entrevista de emprego numa fábrica de alumínio na próxima quinta. Pagavam uma miséria mas estava precisando pagar o aluguel. Eu estava com quase dois meses parado depois de ter saído de uma loja de roupas por ter fodido a filha do gerente.
Precisava urgente de um cigarro. Nada nos bolsos. Nada de dinheiro. Caralho!
O que fazer numa tarde de sol fodido, sem dinheiro, sem cigarro, sem bebida e sem uma boceta pra foder?
Voltei pro quarto e mergulhei na cama.





“Só existem duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. E não estou muito seguro da primeira.”

ATÉ QUANDO???!!!



"Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro!
Até quando você vai ficar levando porrada,
até quando vai ficar sem fazer nada"

PROPONHO UM BRINDE!

VAMOS CELEBRAR!!!!


"Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...
Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...
Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!..."

A VISITA CRUEL DO TEMPO


"É essa a realidade, não é?
Vinte anos depois, a sua beleza já
foi para o lixo, especialmente
quando arrancaram fora metade
das suas entranhas.
O tempo é cruel, não é?
Não é assim que se diz?"

domingo, 4 de março de 2012

"Redenção", de Marc Foster, propõe um debate sobre a indiferença

Logo na abertura de Redenção, um letreiro informa que se trata da história de Sam Childers e, no final, o biografado é visto em cenas com a mulher e a filha, ou em seu habitat africano. A história do novo filme de Marc Foster é real, portanto, mas devidamente romantizada por Hollywood.

Numa cena, o personagem, improvisado em pregador, discursa para os fiéis de sua igreja e diz que Deus não quer um rebanho de ovelhas, mas uma matilha de lobos de dentes afiados para lutar contra o mal. O próprio Childers oferece um exemplo radical de redenção. Criminoso, drogado, sexista, o Cavalo Louco, como é chamado, vira crente e dá uma guinada violenta.

Atraído pelo que ouviu de outro pastor, ele vai à África, mais exatamente ao Sudão e se dedica a salvar as crianças que são as grandes vítimas da guerra civil que consome o país. A primeira cena é de massacre numa aldeia. A milícia que serve ao ditador invade o local e promove uma chacina. Um garoto empunha a clave e é forçado a um ato bárbaro. Este garoto voltará no relato, em forma de flash-back. E será ele o agente da transformação definitiva de Childers, daquilo que nem Deus nem o diabo conseguiram.

O filme é produzido e realizado por Marc Foster, produzido e interpretado por Gerard Butler. Ou seja, o envolvimento de ambos é total. Uma organização humanitária, que trata das relações entre EUA e África, monitorou a produção e deu seu aval. Durante todo o tempo, o personagem, mesmo quando usa a palavra - para pregar a verdade do Senhor -, enfatiza a importância da ação. Childers tem urgência. E ele reza na Bíblia daquele padre de O Exorcista, de William Friedkin. Quando o exorcismo falha, o demônio tem de ser expulso a socos do corpo de Regan.

Butler também bate e arrebenta em Redenção. Ao menino que se recusa a falar, ele diz que, às vezes, é preciso se abrir. Quando o menino se abre é para dizer que, por maior que seja o trauma, não se deve ceder ao ódio. Em caso contrário, o diabo terá vencido.

Redenção é um filme romanesco, mais para Diamante de Sangue, de Edward Zwick, do que para Minha Terra, África, de Claire Denis. Com esse último, comunga a ideia de que a humanização dos meninos/soldados é a esperança africana. "Redenção" pode não ser bom de verdade, mas é bom ver Redenção. O trauma do passado, o resgate da infância, a segunda chance, tudo remete a O Caçador de Pipas, também de Marc Foster. São filmes gêmeos e, se o outro é melhor, este não deixa de propor um debate (necessário) sobre a indiferença como mal do século. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Diário Catarinense