segunda-feira, 5 de março de 2012

UM DIA DE HANK PARTE 03

Virei o resto de vinho que sobrava na garrafa. Olhei ao redor do quarto e só garrafas vazias espalhadas pelo chão. Abri a geladeira e nada além de umas coxas de frango azedas. Abri a carteira e encontrei uns trocados. Vasculhei os bolsos e encontrei mais um pouco. Garantiria mais uma garrafa. Desci as escadas e peguei a avenida principal. Da esquina avistei o mercado. Era por volta de meio dia de sábado e a rua estava movimentada. Dei alguns esbarrões mais nada que me incomodasse tanto quanto o calor. Meu pescoço fritava e eu procurava qualquer sombra pra aliviar daquele sol.
Tentei andar de maneira que não parecesse tão bêbado. Faltavam apenas uns 30 metros.
Na porta do mercado o balconista já avisava: “Nada de fiado companheiro!”
Puxei do bolso os trocados e mostrei a ele. Peguei o vinho mais barato e uns amendoins e voltei para o quarto. Na entrada dei de cara com o vizinho da esquerda. Um sujeito metido a certinho que no fundo eu sabia que não passava de um filho da puta tarado em crianças. Fiz de conta que não vi ele falando comigo e entrei. Abri a garrafa e tomei no gargalo. Já não sentia o sabor do vinho  e sim um amargo na língua. Liguei a TV e só passava merda. Não adiantava mudar de canal. Eram tantos e a metade eram religiosos tentando abocanhar o pouco do dinheiro dos desesperados. Desliguei. Tomei mais um trago. Deitei na cama e tudo rodou. Levantei. Resolvi dar uma volta. O quarto estava abafado e úmido. Na saída derrubei o vinho e perdi a metade da garrafa. Uma moradora ficou me olhando com ar de reprovação. Fodasse ela e sua vidinha de merda! Desci as escadas, que ficará mais difícil de descer que da primeira vez. O corrimão me poupou de alguns tombos. Dei de encontro com o sol que não me deu trégua. Virei o resto do vinho. Procurei o bar mais próximo. Fechado. Cruzei a principal e virei a esquerda. Enfim um bar se assim o puder chamar. Não me lembro de ver tantos olhos olhando o vazio como naquela espelunca. No balcão um sujeito me atendeu com uma cara de pouca conversa. Pedi um duplo com aguá. Ninguém se falava. Todos quase que estáticos a não ser pelo movimento de levar o copo a boca. Aumentei a estatística. Pedi outra dose. O ambiente era deprimente. Pouca luz, espelhos já esverdeados nas paredes não refletiam mais nossos rostos, e sim umas imagens disformes e bizarras. A música era indecifrável pois as caixas emitiam mais ruídos que acordes. No canto esquerdo do balcão um cara bateu o copo na mesa e olhou para o teto. Seu rosto era uma mistura de Bogart e Dafoe. Expressão cansada e rugas que lhe tomavam quase que todo o rosto. Pobre sujeito. Na certa perdeu a esposa ou emprego, coisa que comigo não seria motivo de bebedeira. Há tempos só me envolvia com vagabundas e vivia de bicos. Já estava na minha quarta dose quando um sujeito por volta de seus 50 anos entrou e sentou ao meu lado.
- Que dia quente eim.
- Moço, uma cerveja bem gelada!
Olhei e balancei a cabeça.
- Esta no escocês? Putz!
Dei um sorriso amarelo.
Este é meu defeito. Não sei ser simpático nem falso. 
- Esta aquecendo para o jogo?
- Escuta cara, o único jogo que gosto é corrida de cavalos. Não sou de muita conversa e so vim aqui pra virar uns tragos ok!
O cara me olhou torto e mudou de lugar.
Se quisesse conversar iria para o bingo fofocar com um monte de velhotas.
Pedi mais um whisky, virei e sai daquela espelunca. O sol tinha maneirado. Olhei o relógio. Aquela merda estava parada a uma semana e eu não tinha tirado. De que me importava a hora, não tinha nada marcado para as próximas 144 horas. Havia conseguido uma entrevista de emprego numa fábrica de alumínio na próxima quinta. Pagavam uma miséria mas estava precisando pagar o aluguel. Eu estava com quase dois meses parado depois de ter saído de uma loja de roupas por ter fodido a filha do gerente.
Precisava urgente de um cigarro. Nada nos bolsos. Nada de dinheiro. Caralho!
O que fazer numa tarde de sol fodido, sem dinheiro, sem cigarro, sem bebida e sem uma boceta pra foder?
Voltei pro quarto e mergulhei na cama.

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