segunda-feira, 4 de abril de 2011

A VARANDA DO FRANGIPANI


Mia Couto desmancha poesia nas páginas...

Pequenos trechos:


“Toquei a árvore, colhi a flor, aspirei o perfume. Depois divaguei na varanda, com o oceano a namorar-me o olhar.
Lembrei as palavras do pangolim:
- Aqui é onde a terra? se despe e o tempo se deita.”

“Nessa altura, eu ainda via os homens como as aves entendem a nuvem: um lugar onde se pode passar mas nunca habitar.”

Os únicos que conhecem a verdadeira cor do mar são as aves que olham de um outro azul.”

“Aconteceu assim: primeiro, me acabou o riso; depois, os sonhos; por fim, as palavras. É essa a ordem da tristeza, o modo como o desespero nos encerra num poço húmido.”

“Fui sabendo dessa maldição nas primeiras vezes que chorei. Enquanto lacrimejava eu ia desaparecendo. As lágrimas lavavam a minha matéria, me dissolviam a substância”

“Antes de me tocar pedia-me que chorasse. As lágrimas me escorriam e ele as sorvia como se fossem a última água. Aquela era a fonte que lhe dava alento. Mais que minha própria carne. Hoje, que já não choro, entendo Vasto. Pela lágrima nos despimos. O pranto desoculta a nossa mais íntima nudez.”


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