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quarta-feira, 7 de março de 2012

EPIFANIA

- Porque te prendes a estas amarras?

Baixei a cabeça e olhei os punhos cerrados.

- A amarras não estão em tuas mãos e sim na tua cabeça.

Levantei, dei a última tragada, joguei o cigarro e sai andando.

- Não se liberta fugindo e sim lutando. Mesmo que contra seu maior inimigo, suas convicções.

Parei sem me virar e respirei fundo. Estava me sentindo sufocado.

- Tudo que você acredita foi lhe passado para lhe fazer acreditar no melhor para "o todo". Suas certezas são certezas de outros, compilações de um manual de “boas maneiras”. O rebanho tem que seguir em frente. Há anos é assim e vai continuar sendo. São poucos que enxergam além do imposto. Mas depois é tão óbvio que nos sentimos idiotas por passar tanto tempo para perceber. Seus conceitos são dilacerados. Tudo muda. O medo acaba. Acredite.

Virei e o encarei. Encontrei olhos focados, olhar intenso e determinado.

- Sei que é difícil. Sua vida toda foi condicionada para acreditar e seguir o que lhe foi colocado. Eles fazem isso com excelência. Você nasce e já lhe apresentam mesmo sem você saber andar, falar e raciocinar. Você cresce e aquilo cresce junto com você. Lhe rodeia, lhe enlaça, lhe inunda. Há poucas brechas, mas quem as procura? So se procura o que se tem conhecimento.

Minha cabeça começou a rodar. Voltei e sentei. Acendi outro cigarro.

- O quadro desaba diante dos seus olhos. Era tudo camuflado, pintado com as cores imagináveis de sua mente. Ela não tem culpa, foi entupida de informações manipuladas aos interesses alheios de maneira que a pintura só fosse vista de uma única perspectiva.
Você precisa ver o quadro como foi proposto por Picasso em sua fase Cubismo.
Os objetos foram pintados de maneira que todas as suas partes fossem percebidas num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e mostrassem todos os seus lados no plano frontal em relação a quem o aprecia. Lhe proponho sair desta visão unilateral. Aceite o amargo da dissimulação coletiva. Amplie o espectro. Solte as amarras. A ordem é desconstrução.

Fechei os olhos. Uma mistura de inquietude, revolta e excitação me tomou por completo. Pequenos espasmos partindo das pernas. Depois torpor. Alívio. Senti as amarras afrouxando. Um peso desprendendo. O início de um recomeço.

- Bem vindo a vida.


EDUARDO RAMOS