quinta-feira, 24 de maio de 2012
Prazeres Frugais
O Vinho compartilhado
O Mar ouvido e olhado
Neruda sentido
Quintana absorvido
Abraço apertado
Sorriso frouxo
Chico e Bach
Vinícius e Cortázar
Olhar apaixonado
Pele macia e beijo molhado
Rede na varanda
Cheiro de livro novo
Vento no rosto
Sanduíche de pão com ovo
O sol da manhã
Conversa interessada
Saudade suprida
Banho demorado
Jardim florido
Céu estrelado
Silêncio reflexivo
Cheiro de terra e mato
Encontro de amigo
Chuva na janela
Pé na areia
eu e ela
Eduardo Ramos
segunda-feira, 5 de março de 2012
UM DIA DE HANK PARTE 03
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Madrugadas Insalubres
Pela janela entre aberta já não entrava mas vento. Isto contribuía para lhe deixar mais sufocado dos que se sentia. Em sua escrivaninha papéis espalhados se misturavam com cinzas de cigarro. A noite estava calma, salvo latidos de um cão ao longe. Sentou, apertou os olhos como quem revira a memória atrás de lembranças perdidas e cerrou os lábios. Acendeu um cigarro, suspirou e por um momento se lembrou de seu primeiro cigarro. O dividiu com um amigo atrás da escola na hora do intervalo. Mas isso fazia muito tempo e muitos outros amigos vieram e sumiram como a fumaça de tantos que fumou. O latido do cão o fez voltar de seu passado. Suas mãos suavam e isso o deixava incomodado. Se levantou, foi ao banheiro e abriu a torneira mas ficou só olhando a água cair. Se olhou no espelho. Já não reconhecia mas quem estava a sua frente. As olheiras já proeminentes, os lábios ressecados, a barba por fazer e o cabelo mau cuidado contribuíam para isso. Sentou novamente e ensaiou escrever, mas a impaciência não deixou. Respirou forte e passou as mãos no rosto. Ficou alguns instantes imóvel e olhou para o relógio, 04:50. O sol daqui a pouco apareceria para mais um dia obvio, com pessoas obvias. Passou o cigarro entre os dedos, franziu a testa e balançou a cabeça em sinal de descontento. Para alguém que já sonhou em tocar as estrelas, não ter perspectivas para as próximas horas era algo no mínimo irônico. Passou os olhos pelo quarto sem direção e parou na janela. Já estava clareando quando abriu a gaveta e puxou um livro já surrado. Abriu com cuidado em uma página específica e ficou contemplando. Tirou de dentro um papel já amarelado e leu seu conteúdo. Seus olhos se encheram de lágrimas. Já nem lembrava mais o seu último sorriso. Se levantou rápido, como que fugindo dos pensamentos e guardou o livro. Era hora de ir trabalhar. Em frente ao trabalho ajeitou a camisa, respirou fundo e com um sorriso amarelo passou pela portaria e falou:
- Bom dia.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Por entre os dedos
Me abaixo e apanho uma concha. O vento levanta a areia branca que toca meus pés. As ondas estão pequenas, quase marolas. Tem pouca gente na praia, pois ainda é muito cedo e não estamos em temporada de férias. Um senhor com um bigode esquisito de seus 50 anos passa ao meu lado a passos largos fazendo seus exercícios matinais. Uma mulher baixa e gorda levando um cão a tira colo tenta acompanhá-lo. Olho para a concha em minha mão. Branca com rajas marrons e pretas. Dou uns passos a frente e logo as ondas me acertam os tornozelos. A água esta fria. Sinto um leve tremor no corpo, mas logo a sensação se torna agradável. O céu esta azul como nunca esteve. Quase não há nuvens no céu. O sol brilha como se estivesse no seu máximo e a areia reflete seus raios me fazendo cerrar os olhos. Ergo o braço e arremesso a concha de volta ao mar com toda minha força. Ela bate na água, resvala e novamente sobe esbarrando de frente com uma onda. Some. Por um momento desejei esta no lugar da concha. Um vendedor de cocos passa e me oferece um, dispersando meus pensamentos.
Volto para a areia e me sento perto de onde as ondas morrem, ainda tocando meus calcanhares. A maré parece que esta enchendo, a tirar pelas ondas que cada vez mais avançam em minha direção. O silencio é quebrado por gritos de crianças que brincam com seus castelos de areia.
Escrevo palavras soltas na areia com a ponta dos dedos que as ondas insistem
Olho para os lados e vejo que a praia não esta mais tão vazia.
Avisto ao longe, quase que imperceptível, um barco que logo desaparece entre as ondas.
O sol já começa a queimar minhas costas e me levando novamente. Entro no mar e deixo as ondas me acertarem. Uma a uma golpeiam meu corpo me fazendo balançar. Mergulho. Silencio. Calmaria. A água não esta mais tão fria e a sensação e confortante.
Mais silencio. Abro os olhos, mas não enxergo nada a frente. Sinto as ondas passarem sobre minha cabeça. O tempo parece que passa mais devagar. Vem-me na mente momentos de minha infância e novamente uma sensação de bem estar. Mesmo em baixo d’água avisto o sol que me observa imparcial. Resta-me pouco ar nos pulmões mas mesmo assim ainda mergulho mais fundo e toco a areia abaixo de mim. Apanho um punhado de areia e subo. Puxo todo o ar que é possível e sinto-o inundando meus pulmões. Nado de volta a praia e deixo lentamente a areia me escorrer por entre os dedos, assim como minha vida.
Eduardo Ramos
Me dispo
De teus vícios
E tuas superstições
De tua pele branca
e teus cabelos negros
Me dispo de teu sorriso largo
De teu cheiro perturbador
E tua nuca inevitável
De teu olhar raso
E de teus sentimentos Profundos
Me dispo de teus lábios poderosos
De tuas irrefutáveis coxas
E tuas frágeis mãos
E no final o que sobra...
Um tolo com um lápis e um papel em branco