- O companheiro sabe a quanto fechou o dólar?
Entreguei o cigarro, fiz que não com a cabeça e continuei andando.
- Ei! Ei!
Olhei pra trás e era o bêbado novamente.
- Tens fogo?
Acendi seu cigarro.
- Obrigado companheiro. Vá com Deus.
No caminho dei de frente com putas, veados, esmoleis e drogados. Todos tentando alguma coisa comigo. Segui em frente sem dar atenção. Já havia feito minha boa ação da noite com o bêbado economista.
Chegando na porta do bar um taxista me aborda.
- Doutor, precisando de companhia pra noite é so falar comigo. São todas de primeira. Franguinhas selecionadas. Carne nova doutor!
Agradeci e entrei no bar. Sentei no primeiro banco que encontrei no balcão.
- Por favor um whisky e uma água.
O garçom so me olhou de canto de olho e trouxe meu pedido. O bar estava com todas as mesas ocupadas. Uma mistura de turistas, boêmios, bêbados e putas. Sem sombra de dúvidas não era ambiente familiar. Tocava alguma coisa meio merengue meio salsa. Nunca fui bom em diferenciar as duas. Que seja. Olhei para o copo e virei de um trago so.
- Mais uma dose amigo.
Logo o copo já estava novamente abastecido. A luz era pouca mais dava pra ver o semblante das pessoas. Todas meio sem vida. Poucas feições.Procurei um espelho ao redor para ver se eu aumentava as estatísticas. Fiquei em dúvida.
- Um cidadão que estava sentado ao meu lado que desde que eu cheguei não tirava os olhos da TV se virou e falou:
- Estes chineses vão dominar o mundo!
Olhei e dei um sorriso forçado..
E o sujeito continuou.
- Estes amarelos de merda vão fuder com o mundo! A economia vai se render a eles. Tudo é feito na China. Daqui a pouco vou dar um cagalhão e vai ter "Made in China" nele.
Fiz que concordei com a cabeça e ele logo voltou a olhar para a TV. Mal terminei minha dose e ele novamente interrompe:
- Esses politicos sempre se safam. Esse ai subornou o juiz da...
- Ah, vai se fuder - Falei pra ele e fui sentar na outra ponta do bar.
Ele ficou parado me olhando com cara de bunda mal lavada e ainda ouvi ele dizer:
- Esse cara é um maluco...
Que se foda ele e quem concordar. Tava cheio de papo trivial. Pedi mais uma dose e uns amendoins pra forrar o estomago. Eram 23:20 e o bar ainda estava cheio para uma quinta-feira. Lembrei que bem cedo teria que ir numa entrevista de emprego em uma loja de autopeças. O salário era um lixo, mas minha reserva estava no fim e logo teria que pagar o aluguel. Meu último emprego durou 23 dias como vendedor numa loja de roupas safadas. O Gerente me pegou tomando uns tragos no deposito no intervalo do lanche e me colocou na rua. O filho de uma puta nem imaginava que eu estava enrabando a Charlene, auxiliar do financeiro, que por sinal era sua filha.
Prefiro beber a comer. Me da mais animo.
Umas putas entraram no bar rindo alto e uma delas veio em minha direção. Era uma mulata bem alimentada e de sorriso largo.
- E ai, ta afim de companhia?
- Não to afim de trepar hoje, mas se quiser um trago eu pago.
Ela sentou e falou:
- Gil, o mesmo que meu amigo aqui ta bebendo.
Ficamos calados por um tempo e ela perguntou:
- Foi corneado ou despedido?
- Estou tão acabado assim – Eu perguntei
- Ta com uma cara de que comeu merda estragada.
Sorri. Era o que me restava.
- Mudei de idéia. Gostei de você. Vamos lá pra casa.
- Gil, a conta.
Passamos numa loja de conveniência e comprei um garrafão de vinho barato. Precisava dar uma aliviada para a entrevista de amanhã.
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